segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Livre-Arbítrio…

Pergunto-me com frequência se esta expressão serve para definir coisa alguma…

Nas minhas deambulações solitárias em cima da bicicleta cruzo-me assiduamente com pensamentos que surgem de diversos estímulos visuais e auditivos.

Quanto aos últimos utilizo a música (com o cuidado necessário a quem anda de bicicleta) para afastar na medida do possível todo o som externo que possa criar um ‘ruído’ desnecessário…

E funciona. Funciona tão bem, que por vezes sinto-me como um observador extrínseco. As pessoas passam, as paisagens passam, os carros, as casas… e sinto-me como não fizesse parte desse universo… sinto-me como um espectador de um filme que nem sempre é agradável.

Aproveito esses passeios para criar um isolamento especial do mundo em que vivo, um isolamento cada vez mais necessário a um equilíbrio pessoal que, por sua vez, se torna cada vez mais difícil de atingir.

E a minha última deambulação não fugiu à regra.

Desta vez o pensamento surgiu de uma andorinha-do-mar que, a um par de metros de mim, percorria, ao sabor do vento e à mesma velocidade do que eu, o mar que embatia no paredão por onde rodava… terei tanto livre-arbítrio como aquela ave que pode escolher as suas acções como lhe convier?

A bom da verdade… terei eu algum tipo de livre-arbítrio?

Esta reflexão surgiu dessa ave que, quase telepaticamente entendendo o meu pensamento, acompanhou-me durante alguns minutos olhando-me com uma empatia como percebendo que é bem mais livre do que eu… depois foi-se embora, escolheu ir para outro lugar, para outra companhia ou isolamento, deixando-me com esses meus pensamentos.

Onde está o meu livre-arbitrio? Não o tenho… não o terei?

Os condicionamentos que todos temos sejam devido às Leis, regras sociais, ou outros quaisquer tipo de regras civilizacionais, limitam a capacidade de escolha em liberdade do indivíduo.

Não acho que sejam, no entanto, essas regras que nos retiram a liberdade de escolha individual. Essas regras são fundamentais para a funcionalidade de uma sociedade e acabam por criar, per si, as condições necessárias a que todos possamos ter opções de escolha válidas sem atropelarmos outros.
Existem condicionamentos que escapam a essas regras… o poder económico é talvez o que mais nos retira liberdade a nível material…

…mas no que interessa, o que nos limita realmente são as atitudes individuais que não estão sujeitas à rigidez das regras, o que nos limita é a nossa consciência , o nosso ego e super-ego, o que nos limita é a presença de outras pessoas perto de nós, o que nos limita é gostarmos dessas pessoas…

...e isso afecta a nossa liberdade de tal maneira que o pouco que resta do nosso suposto livre-arbítrio não é mais do que reacções às acções dessas outras pessoas…

Sem comentários: