Por outro lado o teor daquelas palavras pode induzir em erro quem as lê, se se distorcer o conteúdo da mensagem…
Quero que fique bem claro, que não sou um ateísta, ou um gnóstico fanático. Subscrevo, no entanto, a ideia subjacente ao movimento da The Out Campaing de Richard Dawkins...
Não me considerando ateu, posso dizer que talvez, só talvez, roce a definição de deísta…a virar para o budismo, sei lá...algo do género.
Apesar de ter sido educado num universo totalmente cristão, com as ideologias próprias da ‘fé católica’, sempre fui desde criança incentivado a pensar por mim, analisando tudo de uma forma o mais empírica possível. E como seria óbvio, o catolicismo nunca foi, em momento algum, aliciante de seguir, por todas as ‘pontas soltas’ a que o post anterior faz referência…e outras mais que não são referidas.
Na verdade, e na minha opinião, qualquer religião assente em bases teístas está por si só corrompida por ter como intermediário entre Deus e Homem, o próprio Homem.
Nas religiões teístas, Deus, ou Deuses, transmitem através de textos ou revelações sagradas a sua palavra… acontece que, desta forma, nunca conseguem chegar directamente a toda a Humanidade, sendo necessário delegar a disseminação das revelações numa ‘ajuda terrena’ de profetas e/ou de um exército de discípulos… o que é incrivelmente conveniente para alguns…
Só por aí, toda a argumentação moral deste tipo de religião encontra-se podre nas suas fundações.
Se eventualmente no início (mesmo, mesmo no inicio!) dos tempos Históricos este tipo de espiritualidade poderia até funcionar, assim que foi possível perceber a facilidade em orientar uma determinada mole através de pequenas alterações às revelações sagradas em proveito de quem as transmitia, todo o fundamento teísta caiu por terra…e esta manipulação todos a conhecemos, basta olhar para as noticias dos últimos 8 anos para perceber a forma como as três religiões ‘irmãs’ (cristã, judaica e islâmica) o fazem tão bem…
Todos nós conhecemos aquele jogo em que um indivíduo, num grupo de 10, 15 ou mais pessoas dispostos em circulo, começa a transmitir uma pequena história ao ouvido do colega do lado, que por sua vez a passa ao seguinte, e assim sucessivamente… quando chega ao ponto de origem a história está completamente deturpada em diferentes níveis consoante o interesse ou a atenção das pessoas que a contam… e é essa a história que o último elemento do circulo, imediatamente antes do indivíduo que a começou, irá crer, com poucas ou nenhumas dúvidas, que foi aquela que o primeiro indivíduo contou.
Agora extrapolem este jogo para a vida real e imaginem uma criança a crescer num meio ‘fechado’ ‘circular’ onde lhe dizem que terá um dia de se envolver em explosivos para destruir o inimigo, morrendo no processo, mas sabendo que terá a vida eterna com tudo de bom no além, ou, por antagonismo social e geográfico, uma criança a quem dizem que a criação foi espontânea, e que se deve reger totalmente por princípios existentes num livro de 2000 anos que foi escrito e rescrito milhões de vezes….qual será aquela que mais perigo trará ao seu semelhante?...
Ora, sendo assim, como se poderá sequer validar a proposição de uma religião, baseada em conceitos teístas? Não se pode.
E a prova está à nossa volta. As ramificações do cristianismo atingiram no último século o seu maior expoente. Não chegam os dedos das mãos para contar quais os diferentes tipos de igrejas com as respectivas variações, e interpretações próprias, do cristianismo… a fé a seguir é aquela que nos dá jeito, ou a que está à nossa porta e os nossos vizinhos seguem… ponto final.
Até porque a definição de Deus pode ser incrivelmente difícil de se demonstrar. Será Deus um Ser, um qualquer Ente Superior? Ou será que a palavra ‘Deus’ engloba numa única definição, apenas e só as Forças e Leis Naturais em acção?... cada um escolhe o que mais lhe convêm. E é ai que reside o busílis da questão.
A religião é, no fundo, o que nós queremos que ela seja, é o que nos faz sentir seguros de nós próprios, e é a utopia onde nos podemos agarrar face à realidade crua e nua da existência humana, que começou a ser percepcionada assim que começamos a fazer questões sobre nós próprios e sobre o que nos rodeava…
A religião é a melhor ‘amiga’ do ser ‘pensante’, pois cobre os ‘buracos’ das questões irrespondíveis.
E estas respostas baseadas na ‘fé’ são e serão sempre controversas. A verdade é que dificilmente se conseguirá encontrar um qualquer tipo de conexão entre as questões de fé e os pensamentos racionalistas, não podendo, no entanto, e paradoxalmente, deixar as primeiras de serem consequência dos segundos.
Por isso mesmo é que, por mais racionais que sejamos, se torna literalmente impossível fugir a um certo nível de espiritualidade nas nossas vidas. Agora a forma da sua expressão é que se pode revelar de inúmeras maneiras. E é ai que entra esse conceito de deísmo.
Contudo, mesmo o deísmo pode não ser a resposta a muitas das questões que se colocam perante a espiritualidade de cada um. O deísmo afirma que Deus é encontrado através do pensamento racional, eliminando-se no processo qualquer tipo de dogma, fé ou lá o que as religiões impõem.
Ora esta 'filosofia deísta’ não é mais do que aquilo que referi acima: - apenas mais uma forma de religião e de fé, desta vez enquadrada socialmente no que agora experienciamos, ou seja, uma época (últimos 150 anos) de puro racionalismo.
Nada muda. Se há 10.000 anos, no inicio da civilização Humana adorávamos o sol, a Lua, as estrelas, a chuva, os relâmpagos, porque eram esses os elementos que se deparavam perante os nossos olhos e para os quais ingénuamente procurávamos explicações, actualmente, perante tanto racionalismo,surge esta doutrina que se encaixa perfeitamente num mundo (ocidental) em que, cada vez mais, o sobrenatural é visto com desdém.
Sendo assim, como posso eu afirmar-me como um ser espiritual, sem nem no deísmo me enquadro totalmente?
Bom, é simples…
…não acredito em Deus como um Ser, não o procuro porque na verdade já o encontrei e vejo-o diariamente… é verdadeiramente omnipresente… eu sou Deus, tu és Deus, tudo é uma pequena parte de Deus…
O que vês neste bocado terra em que vivemos, nestes 80 a 100 anos da tua existência, é uma ínfima, mesmo muito ínfima, parte do que é Deus, e tu, sendo parte de Deus, tornas-te numa ínfima parte dessa ínfima parte que é a Terra e o Tempo em que vivemos… se todos tivéssemos a humildade de percepcionar isto desta forma, garantidamente que seriamos uma espécie bem melhor… até porque tenho a certeza da ‘fé’ que a equação de Drake me transmite, quando me diz que somos uma das inúmeras espécies existentes no Universo que atingiu o expoente dos grandes milagres de Deus: - pensar sobre si próprio… a matéria e a energia organizaram-se para se questionarem sobre si mesmas… e isso é verdadeiramente fabuloso...
Por isso, aproveita bem o que tens em cima dos ombros e questiona-te… questiona-te sobre o que te rodeia, deixa que Deus se encontre e se conheça a si próprio através das respostas emotivas e racionais que obtêm através de ti… é para isso que existes e foi por isso que Ele te criou… e no processo aproveita e disfruta o conhecimento que obténs individualmente, mas sê humilde, porque nada significas perante o que é Deus...
...eu não acredito em Deus senão desta forma...