sexta-feira, 13 de novembro de 2009

MURO DE BERLIM, breve história do século XX - I Parte


Este será o primeiro de uma série de posts relativos ao último grande acontecimento da Guerra-fria,... a queda do Muro de Berlim.
Este muro tornou-se o ícone de toda a geopolítica internacional que regia o século XX.


Sinto-me de certa forma afortunado por ter vivido numa época, apesar de já na sua parte final, em que a História da Humanidade se escreveu muito conturbadamente, mas de uma maneira muito interessante.
O século XX foi, talvez, uma das épocas civilizacionais mais impressionantes de sempre. A evolução técnica foi de tal ordem que a sociologia não a conseguiu acompanhar. Essa evolução foi também de tal ordem que, politicamente, só no final dos anos 80 foi possível visualizar uma certa adaptação a tal progresso.
E ambientalmente, ainda iremos sofrer durante muitos anos devido a esse grande salto tecnológico.
Então, em termos sociológicos gerais, assistiu-se a uma reestruturação de quase todos os conceitos sociais que estavam enraizados nas diversas civilizações.
Assistiu-se ao fim da escravatura, do colonialismo, do apartheid, ao surgimento dos direitos do Homem, das autodeterminações de Países e minorias, ao voto das mulheres, no fundo, a toda uma reestruturação radical de uma sociedade que pouco ou nada se tinha alterado desde os impérios antigos, como foi por fim o império romano.
Ou seja, em 100 anos operaram-se mais alterações em toda a civilização humana do que talvez em mais de 10000 anos se tinha operado, desde a passagem das tribos de caçadores recolectores à agricultura, à criação das urbes, ao sedentarismo.
Os paradigmas civilizacionais alteram-se por completo com o advento das ciências e das tecnologias puras que se desenvolveram num clima social de liberdades e direitos, iniciado com a Revolução Francesa, que, curiosamente, tem o seu auge em... 09 de Novembro de 1799...
Essas alterações tecnológicas ainda são motivo de grandes convulsões sociais, devido ao surgimento das comunicações individuais globais em real time, como é o caso da Internet... o mundo torna-se cada vez mais pequeno.
Lembro-me do meu avô, que nasceu em 1898, contar-me sobre algumas passagens da sua vida de 94 anos, e imaginar como seria conviver psicologicamente com as enormes alterações a que ele assistiu...
- desde a lenha da fogueira, do óleo dos candeeiros, à electricidade, ao gás, à gasolina e a energia nuclear…
- desde do cavalo como sendo a força do transporte individual, ao automóvel, ao Homem na Lua, ou às viagens de avião supersónicas...
- desde as noticias do passa palavra e dos jornais locais, à televisão a cores com notícias em directo via satélite...
- e pior, desde o cavalo, a espada e a espingarda de tiro único, até ao avião de guerra, ao tanque, à metralhadora e às armas nucleares.
A I Guerra Mundial foi a primeira guerra da nova era e foi o primeiro exemplo da incapacidade de adaptação sociológica às novas tecnologias que, por sua vez, foram colocadas ao serviço do belicismo: a consequência directa disto foi a maior carnificina que alguma vez uma Guerra tinha produzido e, em apenas 4 anos: - as estimativas indicam a morte de cerca de 10 milhões de pessoas... apenas 5% eram civis.
No entanto, desta Guerra surge a Liga das Nações que é a semente da moderna Organização das Nações Unidas, que, por sua vez, surge após o término da Segunda Guerra Mundial. São as guerras globais que dão forma a uma consciência também ela global. Pela primeira vez, poder-se-á dizer que existe apenas uma civilização Humana, e esta é a nível planetário, apesar das suas idiossincrasias.
Após 1918, com a Europa destroçada e com a revolução bolchevique em marcha na Rússia, todo o clima político no velho continente começa a alterar-se. O processo monárquico desaparecia gradualmente desde a transição do século, mas com o devastamento causado pela Grande Guerra, as condições para o surgimento em vários países europeus de ditaduras fascistas, socialistas e comunistas, estavam criadas... Espanha, Itália, Alemanha, Rússia, e mesmo Portugal...
Adolf Hitler, que tinha sido soldado na I Guerra Mundial, emerge na cena política Alemã como líder do National Sozialistische Deutsche Arbeiterpartei (partido Nazi) o qual, ao reger-se em ideologias que misturam ideias socialistas e xenofóbicas extremas com ideais do Homem e da Civilização perfeitos cuja imagem é reflexo do Império Romano e das culturas nórdicas, obtêm acolhimento automático numa população derrotada e enclausurada pelo Tratado de Versalhes, mas com um enorme Orgulho Nacional.
No meio disto teria de haver um bode expiatório para os males da Alemanha e a culpa de toda a desgraça Alemã foi colocada sobre os Judeus... a razão disso ter acontecido é mais obscura e prende-se com ideologias míticas que, quer Adolf Hitler, quer Paul Joseph Goebbels, imprimiram também no idealismo Nazi.
A Guerra Civil de Espanha foi o terreno bélico de teste para a nova Alemanha preparar o que iria acontecer posteriormente.
Para não bastar abate-se sobre uma sociedade mundial já debilitada pela recuperação de uma grande guerra, a crise económica de 1929. Entretanto, a Leste surge a União Soviética, um novo bloco ideológico que abrange geograficamente um território do tamanho de um Continente, tendo ao seu dispor recursos enormes.
Precisamente em 09 de Novembro de 1938, 51 anos antes da noite em que a RDA abriu as fronteiras para e do Ocidente, as fundações do que se iria passar nos 7 anos seguintes tomaram forma na Reichskristallnacht ou, traduzindo, na Noite de Cristal.
Nessa noite, na Alemanha e na Áustria, as lojas, bancos e casas de judeus juntamente com as suas sinagogas foram destruídas e muito judeus identificados como tal, foram agredidos a incentivo de Hitler e Goebbels... o pretexto surgiu com o assassinato de Ernst von Rath, um diplomata alemão em Paris, por Herschel Grynszpan, um judeu polaco condenado múltiplas vezes à deportação da França.
Em 1 de Setembro de 1939 Hitler invade a Polónia e inicia-se a 2ª Guerra Mundial.
Mais uma vez, a tecnologia é utilizada para fins bélicos e a carnificina será muitas vezes superior à da 1ª Guerra Mundial, só que, desta vez, os campos de batalha são também as cidades e vilas, e todos, sem excepção, são inimigos a abater, culminando com a destruição de Hiroxima e Nagasaki pela deflagração das duas únicas armas atómicas utilizadas em civis e num conflito armado.
Desta vez, em 6 anos, morrem cerca de 70 milhões, 2% da população mundial à época, e de entre estes mortos cerca de 60% são civis...

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