terça-feira, 9 de março de 2010

BULLYING

Devido aos recentes acontecimentos, (miúdo que se atirou ao rio suicidando-se, supostamente por depressão causada por agressões na escola), esta história do bullying, volta a estar na boca do mundo, com a caracterização das consequências de tal acto (bullying), suas responsabilizações e formas de acabar com o mesmo.

Bom... mais uma vez vou deixar o meu comentário frio e livre de qualquer tipo de emocionalidade que este assunto possa trazer...

E se de repente eu dissesse que a culpa não é do agressor mas sim da vítima??... –

Herege! Malvado!!! ... imagino as vozes de milhões a crucificarem-me por tal afirmação...

Mas é exactamente por ai que o problema irá manter-se por tempo indeterminado, já que este tipo de acontecimentos irracionais e animalescos apelam, em sentido inverso, à mesma irracionalidade que faz parte na animalidade humana a vingança, pondo de lado uma análise coerente de todo o contexto em que estes actos ocorrem.

Vou tentar não me alongar em considerações polémicas nem em comentários que possam ferir susceptibilidades.

O bullying é, na minha opinião, apenas um acto normal de convivência e construção social. Aliás, toda a sociedade é baseada em bullying, físico numa fase mais imatura, psicológica numa fase mais matura e económica numa fase mais abrangente.

O poder e a humilhação, a necessidade de Alfas e Ómegas, são factores e resultados intrinsecos da estrutura hierárquica social, e de que é também vitima o agressor deste miúdo que se suicidou.

E o bullying em que, sublinho, quase todos nós estivemos envolvidos como vítimas ou agressores, é um comportamento tipicamente de construção social. Estabelece níveis hierárquicos essenciais ao desempenho da nossa estrutura social.

Ontem, ao ouvir a pedopsiquiatra Ana Vasconcelos dissertar sobre o último caso e sobre como o bullying se manifesta, apenas me vinham à cabeça as imagens de um certo documentário sobre a estrutura hierárquica dos lobos e de muitos outros grupos de mamíferos... no fundo o que se passa na escola, não é mais do que a criação de estruturas desse tipo.

E porque é que eu digo que esta situação foi ‘causada’ pela vítima e não pelo agressor?

É óbvio que a vítima nunca tem culpa.

A única ‘culpa’ que se pode atribuir à vítima é a sua fraqueza física ou psicológica. E numa sociedade cada vez mais desumanizada, mais animalesca, a verdade é que a vítima é agredida por outra vítima, que é, por sua vez, agredida não por um único indivíduo mas por toda uma sociedade cada vez mais agressora...

Em ultima analise a responsabilização de um acidente deste tipo, sobe e desce por toda a estrutura social, deste o individuo vitima, culpado porque não tinha capacidades defensivas, e porque a sua família (culpada) não lhe soube incutir os valores agressivos necessários; ao indivíduo agressor, culpado porque age de uma forma instintivamente animalesca mas, sublinho, natural, porque a sua família (culpada) não lhe soube incutir valores de convivência social; passando pela Escola e seus intervenientes, culpados, por não incutir valores de cidadania nos seus alunos, fortalecendo-os psicologicamente e construindo-lhes barreiras ético/morais de grupo; indo até à culpa do Estado, essa entidade subjectiva que por sua vez começa cada vez mais a estar condicionada por factores económicos que o obrigam à implementação de politicas cada vez menos sociais, perdendo-se no processo o objectivo de se viver em sociedade que é privilegiar o indivíduo que a constitui; descendo à culpa das grandes instituições económicas que ganharam vida própria onde o único objectivo é criar o dinheiro que sustenta os grandes vícios de crescimento desmesurado; indo até à culpa das Direcções dessas Empresas que se vêem condicionadas à competitividade e à sobrevivência económica da mesma; e finalmente à culpa do indivíduo adulto que constitui essas Direcções e é também o empregado, que se recusa a perder os seus benefícios de vida, e que por sua vez é pai da vítima e ao mesmo tempo do agressor, não tendo tempo nem valores reais para incutir nas crianças noções de vivencia em sociedade...

Enfim, um ciclo interminável que irá acabar certamente na sua autodestruição pelo seu próprio peso...

De quem é a culpa afinal?

Lá diz o ditado popular: “cada um faz a cama em que se deita”...

1 comentário:

Anónimo disse...

É uma tese bem estruturada, com uma optima sequencia de ideias, e muito bem fundamentada. No entanto, não invalida o facto de termos algo que nos distancia dos mamiferos mencionados; a racionalidade, a consciência, a emoção e educação.Na minha óptica, as coisas não são, nem podem ser, analisadas de forma tão linear.