sábado, 14 de agosto de 2010

O Gato de Schrödinger e a Interpretação dos Mundos Múltiplos de Everett

Depois de uns posts sobre os fundamentos da mecânica quântica eis que chego a um dos seus clássicos exemplos.

Garanto-vos uma coisa: Vou tentar ser o mais sucinto possível… “ah, pois, este diz sempre isto e depois sai um testamento do tamanho mundo!!”… devem pensar…

Pois bem, acontece que começo a perder o interesse neste tema, e, como tal, deixei de ter paxorra de estar para aqui a escrever sobre “coisas quânticas” e afins…

…eu sou assim, como um albatroz que percorre os mares do sul durante milhares de quilómetros, tangendo aqui e ali um oceano de conhecimentos… não gosto de pousar, nem de estar muito tempo num único local…posso lá voltar mais tarde, mas fico por pouco tempo, o suficiente para que na minha mente se construa uma imagem suficientemente esclarecedora do tema, criando-se assim, tema a tema, uma perspectiva geral de um ‘todo’ que me permita não me ‘perder’ neste oceano que é a vida…

Talvez por isso nunca tenha conseguido concentrar-me numa especialização, mas talvez por isso mesmo me sinta neste momento capaz de perceber ‘as coisas’ de uma forma muito mais esclarecedora e equilibrada a meu ver… não quantifico, qualifico, que é algo que está em extinção na nossa sociedade,

O engraçado disto é que estou exactamente a falar de um tema, a mecânica quântica, que, curiosamente, numa primeira abordagem deveria quantificar (quântum) as coisas minúsculas, mas que chegou a um nível que a obriga a qualificar a perspectiva do Universo… mais um paradoxo para a caixa…


Bom, divagações à parte, devo, a quem quer que tenha lido com afinco os meus últimos posts, a última parte do inicio do que é hoje a mecânica quântica.

É estranha a expressão, mas na realidade o que vos conto sobre esta ciência é apenas um resumo muito sucinto das ideias com que os investigadores se depararam entre os anos de 1900 e 1950… Max Planck, Bohr, Einstein, Schrödinger, Everett, Heisenberg e muitos outros delinearam as bases de estudo de algo que é incrivelmente não intuitivo e logo de difícil compreensão… mas… tentem apenas qualificar as paradoxalidades que esta física nos apresenta…

E foi isso que Schrödinger fez.

Perante a ideologia da Escola de Copenhaga, que, tal como já vimos, enuncia aqueles dois Princípios rígidos – Complentaridade e Correspondência – de forma a colocar ‘atrás das grades’ do empirismo clássico esta nova ciência do paradoxo, Schrödinger imagina uma experiência mental que vem abrir as portas, com as próprias chaves do carcereiro, à imaginação e à probabilidade de existência de universos de múltiplas realidades. É o Schrödinger’s Cat que quase toda a gente ouviu falar.

A experiência acontece da discussão da sobreposição quântica que, como vimos antes, determina que uma partícula pode ter e estar simultaneamente em vários lugares e vários estados até que uma observação seja realizada e a Função de Onda colapse.

A experiencia consiste em imaginar um gato dentro de uma caixa hermeticamente fechada, com um dispositivo, protegido da interferência do gato, que através do decaimento de um átomo radioactivo leve um martelo a fracturar um frasco com gás venenoso e eventualmente mate o gato.

Acontece então o seguinte:

Como não se pode prever o decaimento do material radioativo, - pode ou não acontecer num determinado prazo - o gato, aos ‘nossos olhos’ porque não o vemos na realidade, encontra-se simultaneamente morto e vivo e poderá realmente estar nesses dois estados (e em muitos outros, tipo com queda de pelo ou cego, etc, etc).


Steven Weinberg, perante esta situação, refere que o difícil na interpretação da mecânica quântica é perceber que esta ciência combina uma interpretação probabilística com uma dinâmica determinística, e é ai que reside o busílis da sua compreensão já que estamos intuitivamente preparados apenas para compreender as coisas por observações empíricas, com os sentidos…

Então, em 1957 Hugh Everett disserta pela primeira vez sobre a possibilidade de uma Interpretação de Mundos Múltiplos. Essa interpretação determina que o observador não tem um papel especial no processo quântico.

Ou seja, o observador faz parte apenas de uma realidade por ele observada num determinado momento e espaço que, antes da abertura da caixa, é apenas uma realidade onde existe uma caixa fechada com algo lá dentro. No entanto, assim que a abre, entrelaça-se, com a realidade existente nesse momento dentro da caixa, desligando-se assim de todas as restantes realidades possíveis, que iriam surgir em momentos diferentes.

Ao observarmos entrelaçamo-nos com a realidade observada começando assim, nessa altura, a fazer parte dessa realidade, não sendo nós quem determina o rumo da realidade anteriormente existente.Simplesmente ‘caímos’ ou ‘saltamos’ para essa realidade…

Ao acontecer isso entramos em descoerência com as restantes realidades, que, segundo Everett e posteriormente Bryce DeWitt, continuam a existir em sobreposições infinitas, cada uma das quais com observadores entrelaçados com essas mesmas realidades…

Eu sei, é muito estranho, mas essa ideia, que Everett lançou na sua tese, foi evoluindo um pouco às escondidas desde essa altura, e nos últimos vinte anos começou a ser altamente considerada para explicar algumas das paradoxalidades que também foram surgindo.


Hoje em dia, apesar da Interpretação de Copenhaga ser ainda seguida por um grande número de físicos, as várias teorias que possibilitam universos múltiplos explicam e tapam muitos dos buracos dos problemas cada vez mais complexos da quântica.

Aliás, a ideia de universos múltiplos já é grandemente considerada e estudada com sendo uma verdadeira possibilidade.

Para terminar deixo uma pequena divagação... como se devem ter apercebido, as probabilidades de 'saltarem' para uma realidade ou outra, para um mundo ou outro, dependem das variáveis Espaço-Tempo... ora, sendo a gravidade uma distorção do Espaço-Tempo, como nos diz Einstein com a Teoria da Relatividade Geral, será a gravidade capaz de nos 'ligar' um dia entre Universos?...seria giro...

Enfim....imaginar não custa...


Nestes posts deixei alguns nomes e alguns exemplos que, apesar de certamente conterem algumas incorrecções, podem levar-vos a pesquisarem mais facilmente toda esta parafernália de paradoxos e coisas abstractas que a Mecânica Quântica nos apresenta.

Deixo apenas um aviso: Se quererem imiscuir-se num estudo mais aprofundado desta física moderna, podem contar com um mundo totalmente novo e diferente do que até hoje percepcionaram… deste estados e lugares simultâneos, a teletransporte, passando por dimensões múltiplas e recuos ao passado, à Teoria das Cordas… enfim… um(ns) Universo(s) verdadeiramente esotérico(s), mas que pode(m) sem sombra de dúvida dar asas à abstracção da nossa imaginação, quase explicando fenómenos que até hoje se poderiam considerar no domínio da ficção cientifica e do sobrenatural.

Quanto a mim, meus caros, não digo que percebo tudo isto, muito longe disso. Seria ser demasiado arrogante, quando grandes mentes, com um infinito número superior de conhecimentos em relação a mim, sempre disseram que não percebem esta história da quântica.

O que eu digo, é que a perspectiva básica que adquiri ao ‘sobrevoar’ este tema me veio enriquecer mais um pouco enquanto ávido consumidor de conhecimentos, permitindo, com mais esta peça do puzzle, que construa mais solidamente a minha visão do que me rodeia…

Será a visão correcta? Será a verdadeira realidade?... não creio, acho que é apenas mais um dos ‘mundos’ que cada individuo por si próprio constitui, um Universo sobreposto a tantos outros.

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