sábado, 5 de novembro de 2011

Bats...

Em tempos de Halloween, deixo-vos hoje com uma história de...morcegos!!

Há uns anos atrás, num inicio de noite de final de Verão, estava a jantar com alguns amigos num dos restaurantes de culto de Aveiro – A Pizzarte – quando de repente entra pela porta um convidado indesejado… um pequeno animal voador que muito provavelmente se desorientou quando perseguia um dos milhões de insectos que pululavam o crepúsculo daquele dia… era um pequeno morcego.

O pobre ser, ao entrar na sala iluminada cheia de pessoas e música ambiente, logo entrou em pânico batendo com uma frequência exasperante nas enormes vidraças das janelas do restaurante ao tentar escapar para o seu mundo breu, caindo, por fim, no chão, de extenuação.

Entretanto, uma grande parte das pessoas presentes, à semelhança do desgraçado morcego, entrou em pânico, fundamentalmente  pelos receios que educacionalmente nos são inspirados desde crianças no que diz respeito a esta espécie vinculada culturalmente ao “mal”… o que não poderia estar mais errado! 

Aquele pequeno animal acabou por ter sorte por eu estar ali naquele dia. Com alguma dificuldade acabei por evitar a morte do bicho, tentando explicar com alguma firmeza que não se iria agarrar ao couro cabeludo das senhoras e arranca-lo, nem iria morder os olhos ou chupar o sangue de ninguém, nem trazer azar para quem ali estava. Com algum cuidado atirei um casaco para cimo do bicho e libertei-o na rua…

Nessa altura desconhecia completamente que é estritamente proibido por Lei matar um morcego, magoa-lo, ou mesmo retira-lo do seu local de repouso sem a devida autorização do ICNB (Instituto da Conservação da Natureza e Biodiversidade).  E Portugal, através do Decreto-Lei n.º 31/95, de 18 de Agosto, à luz das convenções de Berna e de Bona, acordou assim proteger TODAS as espécies deste mamífero residentes no país.

Apesar do desconhecimento da Lei, nunca me passaria pela cabeça magoar ou matar aquele bicho, até porque, desde criança – ao contrário de muita gente – que tenho uma particular admiração por estes pequenos animais que chegam a viver 30 anos e utilizam um dos sistemas de orientação mais fenomenais que se conhecem: - a ecolocalização, a qual, por mais extraordinário que pareça, alguns seres humanos invisuais começaram a treinar para uso no seu dia a dia, inspirados neste pequeno ser... espantados? Também eu fiquei quando vi um cego a andar de bicicleta a emitir clicks com a língua e a passar, sem bater, entre carros estacionados lado a lado e por portas e portões... 

Na sua grande maioria encontram-se em vias de extinção (os morcegos!) e o seu desaparecimento seria extremamente nocivo devido ao desequilíbrio que iria provocar nos ecossistemas, já que cada animal destes consome por noite mais de metade do seu peso em insectos, o que se traduz por noite, em todo o território português, em dezenas de toneladas e, por ano, em vários milhares de toneladas de insectos ... e quando falo em insectos, falo em todo o tipo de insectos, voadores e rastejantes...  

E a eficiência ‘insecticida’ destes animais é tão elevada e conhecida há tanto tempo que, em duas das mais antigas bibliotecas de Portugal – A Biblioteca Joanina da Universidade de Coimbra e a do Palácio de Mafra – existem colónias de morcegos instaladas nos seus interiores há mais de 200 anos. Durante a noite fazem um trabalho de luxo com a limpeza de traças e outros bichinhos que poderiam danificar os livros seculares. É ou não é extraordinário?

Por isso, seria de todo interessante que as mentalidades fossem alteradas relativamente a este animal que, ao contrário do que se julga, não transmite doenças terríveis, nem é demoníaco.

Deixo o link para o Guia de Apoio a Situações de Coabitação  e Exclusão de Morcegos em Edifícios do ICNB, que transmite instruções de como lidar com estes animais de grande importância para os nossos ecossistemas naturais e, urbanos.  Analisem os anexos deste guia que ensina a construir ‘lares’ nos nossos lares para estes animais, sem que eles nos importunem.

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