quinta-feira, 16 de abril de 2009

Retroversão ao tema ‘Religiões’...





Após o enorme texto do meu último post, andei a matutar em como o que me propunha escrever era algo mais do que simples constatações do que a religião é. Subscrevo, sem dúvida, o que o Nuno diz, mas essa fase de contestação à religião já lá vai…já não perco muito tempo com isso, não vale a pena, e parece-me que o miúdo daqui a uns anos vai chegar à mesma conclusão…

Por outro lado o teor daquelas palavras pode induzir em erro quem as lê, se se distorcer o conteúdo da mensagem…

Quero que fique bem claro, que não sou um ateísta, ou um gnóstico fanático. Subscrevo, no entanto, a ideia subjacente ao movimento da The Out Campaing de Richard Dawkins...

Não me considerando ateu, posso dizer que talvez, só talvez, roce a definição de deísta…a virar para o budismo, sei lá...algo do género.

Apesar de ter sido educado num universo totalmente cristão, com as ideologias próprias da ‘fé católica’, sempre fui desde criança incentivado a pensar por mim, analisando tudo de uma forma o mais empírica possível. E como seria óbvio, o catolicismo nunca foi, em momento algum, aliciante de seguir, por todas as ‘pontas soltas’ a que o post anterior faz referência…e outras mais que não são referidas.

Na verdade, e na minha opinião, qualquer religião assente em bases teístas está por si só corrompida por ter como intermediário entre Deus e Homem, o próprio Homem.

Nas religiões teístas, Deus, ou Deuses, transmitem através de textos ou revelações sagradas a sua palavra… acontece que, desta forma, nunca conseguem chegar directamente a toda a Humanidade, sendo necessário delegar a disseminação das revelações numa ‘ajuda terrena’ de profetas e/ou de um exército de discípulos… o que é incrivelmente conveniente para alguns…

Só por aí, toda a argumentação moral deste tipo de religião encontra-se podre nas suas fundações.

Se eventualmente no início (mesmo, mesmo no inicio!) dos tempos Históricos este tipo de espiritualidade poderia até funcionar, assim que foi possível perceber a facilidade em orientar uma determinada mole através de pequenas alterações às revelações sagradas em proveito de quem as transmitia, todo o fundamento teísta caiu por terra…e esta manipulação todos a conhecemos, basta olhar para as noticias dos últimos 8 anos para perceber a forma como as três religiões ‘irmãs’ (cristã, judaica e islâmica) o fazem tão bem…

Todos nós conhecemos aquele jogo em que um indivíduo, num grupo de 10, 15 ou mais pessoas dispostos em circulo, começa a transmitir uma pequena história ao ouvido do colega do lado, que por sua vez a passa ao seguinte, e assim sucessivamente… quando chega ao ponto de origem a história está completamente deturpada em diferentes níveis consoante o interesse ou a atenção das pessoas que a contam… e é essa a história que o último elemento do circulo, imediatamente antes do indivíduo que a começou, irá crer, com poucas ou nenhumas dúvidas, que foi aquela que o primeiro indivíduo contou.

Agora extrapolem este jogo para a vida real e imaginem uma criança a crescer num meio ‘fechado’ ‘circular’ onde lhe dizem que terá um dia de se envolver em explosivos para destruir o inimigo, morrendo no processo, mas sabendo que terá a vida eterna com tudo de bom no além, ou, por antagonismo social e geográfico, uma criança a quem dizem que a criação foi espontânea, e que se deve reger totalmente por princípios existentes num livro de 2000 anos que foi escrito e rescrito milhões de vezes….qual será aquela que mais perigo trará ao seu semelhante?...

Estes fenómenos são interessantes, mas trata-se de algo simples que faz parte de uma estrutura de ‘evolução natural’ aplicada, neste caso, aos conhecimentos transmitidos quer oralmente quer textualmente … trata-se da evolução natural dos ‘memes’

Ora, sendo assim, como se poderá sequer validar a proposição de uma religião, baseada em conceitos teístas? Não se pode.

E a prova está à nossa volta. As ramificações do cristianismo atingiram no último século o seu maior expoente. Não chegam os dedos das mãos para contar quais os diferentes tipos de igrejas com as respectivas variações, e interpretações próprias, do cristianismo… a fé a seguir é aquela que nos dá jeito, ou a que está à nossa porta e os nossos vizinhos seguem… ponto final.

Até porque a definição de Deus pode ser incrivelmente difícil de se demonstrar. Será Deus um Ser, um qualquer Ente Superior? Ou será que a palavra ‘Deus’ engloba numa única definição, apenas e só as Forças e Leis Naturais em acção?... cada um escolhe o que mais lhe convêm. E é ai que reside o busílis da questão.

A religião é, no fundo, o que nós queremos que ela seja, é o que nos faz sentir seguros de nós próprios, e é a utopia onde nos podemos agarrar face à realidade crua e nua da existência humana, que começou a ser percepcionada assim que começamos a fazer questões sobre nós próprios e sobre o que nos rodeava…

A religião é a melhor ‘amiga’ do ser ‘pensante’, pois cobre os ‘buracos’ das questões irrespondíveis.

E estas respostas baseadas na ‘fé’ são e serão sempre controversas. A verdade é que dificilmente se conseguirá encontrar um qualquer tipo de conexão entre as questões de fé e os pensamentos racionalistas, não podendo, no entanto, e paradoxalmente, deixar as primeiras de serem consequência dos segundos.

Por isso mesmo é que, por mais racionais que sejamos, se torna literalmente impossível fugir a um certo nível de espiritualidade nas nossas vidas. Agora a forma da sua expressão é que se pode revelar de inúmeras maneiras. E é ai que entra esse conceito de deísmo.

Contudo, mesmo o deísmo pode não ser a resposta a muitas das questões que se colocam perante a espiritualidade de cada um. O deísmo afirma que Deus é encontrado através do pensamento racional, eliminando-se no processo qualquer tipo de dogma, fé ou lá o que as religiões impõem.

Ora esta 'filosofia deísta’ não é mais do que aquilo que referi acima: - apenas mais uma forma de religião e de fé, desta vez enquadrada socialmente no que agora experienciamos, ou seja, uma época (últimos 150 anos) de puro racionalismo.

Nada muda. Se há 10.000 anos, no inicio da civilização Humana adorávamos o sol, a Lua, as estrelas, a chuva, os relâmpagos, porque eram esses os elementos que se deparavam perante os nossos olhos e para os quais ingénuamente procurávamos explicações, actualmente, perante tanto racionalismo,surge esta doutrina que se encaixa perfeitamente num mundo (ocidental) em que, cada vez mais, o sobrenatural é visto com desdém.

Sendo assim, como posso eu afirmar-me como um ser espiritual, sem nem no deísmo me enquadro totalmente?

Bom, é simples…

…não acredito em Deus como um Ser, não o procuro porque na verdade já o encontrei e vejo-o diariamente… é verdadeiramente omnipresente… eu sou Deus, tu és Deus, tudo é uma pequena parte de Deus…

Deus é o milagre do coração que bate no teu peito e que irá continuar a bater milhões de vezes durante a duração da tua vida, sem que te apercebas… Deus é o som de uma música, como aquela que ouves neste blog… Deus é o peixe do teu aquário, ou o que nada no mar… Deus é a formiga que pisas, ou o pardal que voa ali fora, e o vento que o faz bater as asas com mais força… Deus é o pensamento que tens minuto a minuto…Deus é a moeda que tens no bolso, ou o tremoço que trincas quando descontrais num banco de jardim... Deus é o plâncton no mar que é consumido por ele próprio enquanto peixe que é... Deus é a morte e a vida…e a forma como estão relacionadas intímamente...Deus é o teu telemóvel, a tua lista de páginas amarelas, a tinta e as folhas de papel onde esta está inscrita...Deus é o pó do chão...Deus é a rocha inerte com milhões de anos, mas é também o pinheiro Pinos Longaeva, que vive à 4 760 anos junto dos da sua espécie todos com mais de 1 000 anos nas White Mountains... Deus é tudo para onde olhas, o que ouves, o que cheiras, o que sentes... Deus é o sentimento que tens quando te apaixonas, ou quando ficas a odiar algo ou alguém… Deus é a chuva, o sol, as estrelas… Deus é E=mc2… Deus é o Universo, o tempo, o espaço… Deus é muito mais do que alguma vez iremos conhecer… Deus existe nos confins do Universo, num qualquer bocado de um planeta que desconhecemos e nunca iremos conhecer… Deus é o ser vivo que existe do outro lado da galáxia… e Deus existe no pensamento desse ser que se questiona sobre o próprio Deus...

O que vês neste bocado terra em que vivemos, nestes 80 a 100 anos da tua existência, é uma ínfima, mesmo muito ínfima, parte do que é Deus, e tu, sendo parte de Deus, tornas-te numa ínfima parte dessa ínfima parte que é a Terra e o Tempo em que vivemos… se todos tivéssemos a humildade de percepcionar isto desta forma, garantidamente que seriamos uma espécie bem melhor… até porque tenho a certeza da ‘fé’ que a equação de Drake me transmite, quando me diz que somos uma das inúmeras espécies existentes no Universo que atingiu o expoente dos grandes milagres de Deus: - pensar sobre si próprio… a matéria e a energia organizaram-se para se questionarem sobre si mesmas… e isso é verdadeiramente fabuloso...

Por isso, aproveita bem o que tens em cima dos ombros e questiona-te… questiona-te sobre o que te rodeia, deixa que Deus se encontre e se conheça a si próprio através das respostas emotivas e racionais que obtêm através de ti… é para isso que existes e foi por isso que Ele te criou… e no processo aproveita e disfruta o conhecimento que obténs individualmente, mas sê humilde, porque nada significas perante o que é Deus...

...eu não acredito em Deus senão desta forma...


3 comentários:

johnnie walker disse...

muito bom post.

faz-me lembrar o livro "conversas com deus". tenho que escrever um post sobre ele...

gostei do novo look...mais avançado...mais caro...e a menina la em cima..hum..sera que ela quer ir jantar um leitao comigo?

aaaaah

morte ao carro!

JB disse...

...A menina lá em cima só vai jantar um leitão contigo, se pagares e, se eu for também...algum dia eu a deixaria sozinha com um pilantra como tu??

CB disse...

Este post é realmente muito bom, tendo eu algum conhecimento (pouco, mas tenho-o) sobre religião acho que antes demais religião é História! Sim, porque se na verdade ninguém conhece Deus ou tem provas da sua existência,mas há diversas provas das existências dos "Messias" de diversas religiões e para quem tenha o mínimo de curiosidade achará interessantissímo ler a Bíblia, o Alcorão ou o Cânone Pali (entre outros). Depois existe algo importante é a interpretação daquilo que lê-mos, ora existem pessoas que levam tudo à letra, existem outras que interpretam e contextualização esses mesmo livros na situação presente porque algumas coisas são intemporais e ainda existem aqueles que levam as coisas ao extremo (como e porquê .. nunca consegui entender). Quanto à fé, acho que é um sinónimo de esperança, porque na realidade todos temos e queremos acreditar que certas coisas vão ou não acontecer por mais díficil que seja e há muita boa gente que sustenta essa esperança em "Deus(es)", nem todos nascem com a capacidade de racicionar perante as mais diversas situações e penso que no caso da religião se aplica perfeitamente o conceito de emotividade. Emotividade louca ou emotividade sã? Penso que as duas.. Quanto a questões paranormais muitas vezes englobadas da religião, hum..nunca assisti a nada paranormal logo não posso afirmar a pés juntos que acredito nelas .. mas conheço algumas que nenhum cientista conseguisse prová-las..
Desejo uma boa sorte com este blog, 5 estrelas.