sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Indo eu, indo eu, a caminho de Viseu...

Não sei se já notaram, mas, para quem conduz, existem algumas Cidades em que é literalmente impossível encontrar seja o que for...

Eu posso até dizer que me julgo com uma certa capacidade de orientação. Já conduzo há muitos anos e já passei de carro por inúmeras cidades Portuguesas e Europeias...

No entanto, existem duas cidades que me deixam perplexo perante a sua desorganização rodoviária, e cujo o caos nos deixa verdadeiramente perdidos no meio de tal confusão de estradas, rotundas, cruzamentos e faltas de sinalização...

Uma é Lisboa. Só que em Lisboa é possível orientarmo-nos geograficamente, já que a orientação das ruas principais é, na sua grande maioria, perpendicular ao rio... e existem pontos de referencia geográficos e urbanos que acabamos por utilizar quando nos perdemos no meio de vias sem indicação das direcções principais.

A outra é Viseu... a cidade das rotundas... a coisa mais aberrante que eu já vi em toda a minha vida, algo que nunca vi em mais nenhum lugar por onde já passei... perto disso só as estradas pintadas no meio de uma praça enorme em Bern, na Suiça.

Mas hoje em dia qualquer autarca que se diz autarca tem de plantar umas quantas rotundas pela sua Cidade de forma a conseguir espaço para implantar outras quantas estátuas. E Viseu ganha o prémio do melhor autarca do mundo...

Aliás, em Viseu, qualquer gajo de barba rija e com uns centavos na carteira constrói uma rotunda à saída da garagem... é de macho ser o criador de mais uma rotunda... até penso que em Viseu as rotundas já evoluíram para a reprodução assexuada ... já ninguém precisa de as construir, elas constroem-se a si próprias.

Bom...mas Viseu é Viseu e como podem ler no seguinte pequeno extracto de um texto sobre a história da engenharia rodoviária nos EUA, nem sempre a modernidade é apanágio do discernimento português:

"(...) The experience with traffic circles and rotaries in the US was almost entirely negative, characterized by high accident rates and congestion problems. By the mid 1950s, construction of traffic circles and rotaries had ceased entirely. The experience with traffic circles in other countries was not much better until the development of the modern roundabout in the United Kingdom during the 1960s.(...)"

De notar apenas que as modern roundabout têm regras bem concretas, que raramente são observadas nas rotundas nacionais...

Continuando...

Ontem, fui novamente, e pela centésima vez, a Viseu... e pela centésima vez perdi-me e perdi 45 minutos da minha vida a tentar entrar no meio da Cidade e a encontrar o que queria... desta vez nem consegui encontrar a ‘Cidade’ propriamente dita... ok...podem-me chamar cromo, mas foi mesmo isso que aconteceu.

Viseu já por si tem poucos pontos de referência, quer geográficos, quer urbanos... e à noite as coisas ainda são piores.... em termos urbanos existe um edifício facilmente reconhecível, o ‘Palácio do Gelo’, e quem entra pela A25 do lado Sul, tem ai um bom ponto de referência... depois? Depois acabam o pontos de referência...

E ontem foi assim. Entrei pelo Sul, esperando conseguir chegar ao Forúm de Viseu do lado Norte... a minha miúda diz-me sempre: ‘Dá a volta pela circular...”

O problema é perceber onde está a circular da Cidade... ao entrar na suposta circular junto ao ‘Palácio do Gelo” deparam-se sucessivamente, e em todos o cruzamentos, rotundas do mesmo tamanho e forma.

Ora uma estrada em que todos os cruzamentos existem rotundas praticamente iguais, deixa de ter referências geográficas... tudo é igual... para agravar, não existem edifícios que possam constituir referências urbanas. Agravando ainda mais, todas as ruas que saem e entram nas rotundas têm exactamente a mesma tipologia: - 4 faixas de rodagem, que vão dar a outra rotunda e assim sucessivamente. E agravando tudo, surge o problema número 1 de todas as Cidades Portuguesas: - Sinalização de indicações principais deficiente ou inexistente. E nas rotundas isso torna-se especialmente grave pois a sua tipologia com diversas saídas torna perfeitamente desorientador a procura da saída correcta.

Conclusão, das quatro vezes que segui a orientação ‘centro’, em três vezes fui dar a zonas residenciais, onde a suposta estrada principal de 4 faixas desaparece, tendo de inverter a marcha e voltar às rotundas ... na 4ª vez, atravessei um bairro e vi-me deparado no meio de uma mata...supostamente no centro de Viseu...

Com tudo isto, desisti...telefonei e pedi para se encontrarem comigo em Mangualde... mas... e agora? como vou sair de Viseu?.... bom, lá fui eu à procura de uma placa azul que indicasse a auto-estrada... elas existiam, mas qual a que deveria escolher? Em várias rotundas apareciam as seguintes placas em sentido inverso: <--A24; A25--> ... na rotunda seguinte: A24-->;<--A25 ... ???!!!!! ... mas que raio??!!! Será que não sabem colocar ‘Coimbra’, ‘Vila Real’, ‘Guarda’ ou ‘Aveiro’ na porra das placas de auto-estrada, como gente normal o faz??? Ah! Afinal têm essas indicações... em placas verdes a dizer IP5??? Mas...esperem, a IP5 já não existe??!! ....

Bom, não sei como nem porquê, apercebi-me que tinha dado a volta à Cidade, sem nunca a ter encontrado verdadeiramente, porque apareci do lado oposto do ‘Palácio do Gelo’...

Em uma hora, lá consegui entrar e sair de Viseu, com umas peripécias pelo meio.... e em 5 minutos cheguei ao centro de Mangualde...

Seria interessante que os nossos autarcas tivessem um pouco mais cuidado com a sua rede viária, ou deixassem de ter negócios com as empresas de GPS....podia ser que as indicações melhorassem... Para quem quer crescer em termos turísticos a falta de atenção a essas questões pode ser um problema...

... em todo o caso da próxima vez que for a Viseu levo o meu GPS... isso é certinho!!

1 comentário:

Manuel disse...

Não se sinta mal porque até pessoas que viveram cá uma parte das suas vidas se perde quando volta cá ao fim de alguns anos.