segunda-feira, 1 de junho de 2009

Conceito de normalidade... limites, quem os cria?

Há uns tempos atrás a minha girlfriend enviou-me um mail curioso que serve para pensar muito para além do vídeo que a mensagem contêm... Vejam o vídeo com atenção e com som...

Este vídeo é um dos óbvios exemplos do animal social que o Homem é.

Neste caso em concreto, para quem não está a par, trata-se de um vídeo promocional da Mobile T, uma companhia de telemóveis. São perto de uma centena de bailarinos “infiltrados” numa comum mole humana existente numa, também normal, estação de metro.

O que me fez postar este vídeo aqui, foi a forma como em poucos minutos se resume toda uma sociedade, seus comportamentos e atitudes. Senão reparem:

Quando a primeira pessoa (bailarino) começa a dançar, torna-se alvo de olhares de desdém e mesmo certa repulsa dos transeuntes... “- o homem deve estar maluco, coitado”... imagino alguém a dizer...

Mas quando começam a aparecer mais indivíduos com semelhante comportamento, a coisa começa a mudar de figura e a envolver todos os que passam na mesma conduta...

- dançar.

E porquê? Porque a ‘maioria’ tomou esse procedimento como normal, naquela altura e momento, e se a maioria segue esse comportamento ‘inocente’, ao não o fazermos também, seremos então nós os ostracizados socialmente.

Os limites da “normalidade”, sociologicamente falando, são definidos pela maioria, o que não será necessariamente o que é mais correcto e produtivo.

Ora isto, é a base de todos os comportamentos. Se o grupo onde estás realiza determinado procedimento, então é porque supostamente é o normal – não necessariamente o mais correcto – e a nova conduta será seguida quanto mais facilmente, quanto mais ‘inocentemente’ se enquadrar nos conceitos morais e éticos apreendidos ao longo da vida, que obviamente já se encontram enraizados... ou à falta destes... se potenciarem os instintos próprios da espécie que prevalecerem em cada individuo.

E a experimentação social já comprovou que os controles morais e éticos que todos possuímos, podem acabar por ser facilmente ultrapassados se estes forem ‘destruídos’ perante fortes argumentos que promovam os instintos básicos que esses controles sociais tem por função reprimir. A violência é um desses instintos.

A verdade é que o ‘certo’ e o ‘errado’ ou o ‘Bom’ e o ‘Mal’ acabam por ser definições subjectivas e relativas. E os limites de normalidade estão indubitavelmente sujeitos a esta relatividade.

Não existe uma parede aqui e ali que estabelece onde acaba ou começa um determinado comportamento...os limites diluem-se no grupo sendo os extremos aceites desde que decorrendo em janelas temporais curtas...

E é aqui que, mais uma vez, se encontra a Regra que predefine tudo...a aleatoriedade, e por conseguinte a evolução natural...

Certos comportamentos podem ser aceites ou recusados, de acordo com as condições ambientais, bastando para isso uma aceitação ou recusa de cada vez mais indivíduos que, por sua vez, irão aumentar (ou diminuir, conforme o caso) o periodo da tal janela temporal.

As Leis e a sua mutação, são o exemplo acabado disto.

Voltando ao processo de construção de um comportamento e à forma como é facilmente possível alterar atitudes com contra-informação, expondo a essência instintiva Humana... Gostaria e poderia dar imensos exemplos para comprovar isso, mas deixo-vos apenas com um dos mais curiosos e controversos:

-A experiência Milgram.

Nesta experiência, pretendeu-se avaliar até que ponto um comum cidadão pode infligir dor e mesmo a morte a outro cidadão em certas condições, nomeadamente, quando condicionados à obediência a uma figura de autoridade válida, como é a de um cientista.

Moralmente, a ciência, no seu estado mais ‘puro’, incute poucas ou nenhumas dúvidas quanto aos seus objectivos, e foi por ai que os promotores da experiência ‘quebraram’ os controles ético/morais dos indivíduos sujeitos à mesma, deixando então, e em aberto, apenas, como reguladores das atitudes, os instintos básicos de cada um individualmente.

A experiencia consistia num indivíduo A (o professor) aplicar choques eléctricos noutro indivíduo B (o aluno). O primeiro teria que travar conhecimento com o segundo, sem saber que este saberia à partida da experiencia e que não iria sofrer qualquer tipo de punição. Após isso, o A, numa sala, iria solicitar a resposta correcta do B, que estaria na sala ao lado. Sempre que o B errasse o A “aplicar-lhe-ia” um choque eléctrico, começando por uma pequena voltagem e tendo como limite a administração de 3 choques consecutivos de 450Volt, uma voltagem que causaria a morte ao B, senão mesmo antes.

O A, teria um suposto cientista (o experimentador) a controlar os resultados e que o incentivaria a continuar com a experiencia sempre que este colocasse duvidas durante o desenrolar do teste, perante o aumento da voltagem e os gritos de dor do B, argumentando que a continuação seria de importância vital, não restando outra opção.

Ora, por incrível que pareça e mesmo após algumas variações à experiencia, incluído a utilização de diversos grupos sociais, cerca de 65% das pessoas aplicaram os choques fatais, apesar de todos, em certo momento, levantarem questões quando ao procedimento. Na primeira das experiencias, apenas um dos que se recusaram em continuar, o fez antes do choque de 300 Volt.

Dá que pensar...


Existem inúmeros exemplos, mas quem determina os limites (ambíguos) da normalidade, é o grupo e não o indivíduo, e no caso desta experiencia, o facto de estarmos pré-configurados com a noção que a investigação cientifica é primordial, levou a que 65% da população não reflectisse seriamente nas suas atitudes, pensando que os ‘cientistas’ sabiam o que estavam a fazer, passando assim todas as suas responsabilidades para essas pessoas.

Será uma atitude racional e inteligente? Não, definitivamente não. E porquê? Porque, definitivamente, não deveremos ser formigas nem abelhas...é necessário criar interiormente verdadeiras formas de controlo de comportamentos, não deixando a responsabilidade dos nossos actos para outras pessoas... isso é o mais fácil e menos inteligente.

Por causa disso, é que existiu e existe Nazismo, entre outras ideologias que não são benéficas para a espécie. E existe também o Marketing que, não só nos compele a consumir, muitas vezes, futilidades, mas cujas fórmulas também servem para efectuar verdadeiras ‘lavagens cerebrais’ com contra informações que podem ser criadas por grupos de interesse, governamentais, ou mesmo, comerciais.

Por alguma razão o nosso país é um dos mais iletrados do continente Europeu.

Até 1974 a regra era fornecer poucos conhecimentos à população, a 4ª classe era o ‘limite’ de estudos, não era necessário mais, e esse era o lema do Estado, ouvindo-se, ainda hoje, os reflexos de tais politicas, quando muita gente referencia que se sabia mais nessa altura com a 4ª Classe do que com o 12º Ano actualmente... é aliciante e tentador utilizarmos essa justificação para tentar explicar a razão do continuo aumento de adolescentes incapazes de escrever e fazer contas, a bem dizer... de raciocinar.

Uma população inculta é mais fácil de manipular. E, infelizmente, ainda passarão algumas gerações até recuperarmos o tempo perdido, até porque, com a falta de rigor das nossas políticas educativas que cada vez mais transmitem conceitos de Educação ‘fácil e rápida’, desvalorizando o Educador Formal (o professor - que infelizmente não pode administrar choques electricos que seriam muito proveitosos em alguns casos), mais tempo passará certamente.

1 comentário:

johnnie walker disse...

Perfeito!

Muito bom o texto. Tão bom que acabou de ganhar um lugar no meu blog. Sendo que assim ficamos a 2:2...

Juro-te que ia escrever essa experiencia de Milgram porque a tinha visto ha coisa de uma semana atras e achei super interessante. Mas ja tinha ouvido falar dela...mas pronto...ja o fizeste...e de uma maneira excepcional.

Clap..Clap..Clap..