segunda-feira, 13 de julho de 2009

Manifesto: "Contra a Segurança Informática!"


Tal como prometido venho aqui escrever um manifesto público contra a paranóia de segurança das redes informáticas e outros sistemas desse tipo.

Não sou expert na matéria, aliás, não sou expert em matéria nenhuma, e ainda bem...

Ainda bem porque, o que já observei empiricamente até hoje demonstrou-me que a especialização diminui a capacidade de compreensão geral do indivíduo face aos problemas diários e comuns.

A forma como alguns técnicos responsáveis de sistemas e redes informáticas actuais protegem esses mesmos sistemas, é a evidência directa do que afirmo.

A informática a nível mundial assenta essencialmente em sistemas operativos Windows que, como toda a gente sabe, são verdadeiramente permissíveis a ataques destrutivos de vária ordem. Como tal, e por causa disso, o actual topo de gama da Windows, o Vista, possui incontáveis formas de segurança (com a excepção de um antivírus integrado, porque será?) que para pouco servem a não ser para que seja quase impossível trabalhar de uma forma continuada e sem dores de cabeça...

O que me parece é que a segurança hoje em dia se tornou mais incomodativa que os próprios malwares que tenta combater e que anteriormente bloqueavam os computadores...

Por exemplo, no Vista, o codec para leitura de ficheiros em DivX ,( ficheiros de filme), bloqueia e mete abaixo literalmente qualquer tipo de visualização, em janela do Explorer, de pastas onde se encontrem esses filmes, pois o centro de segurança do Vista identifica o problema de incompatibilidades (32bit/64bit drives) como sendo prejudicial para a memoria do computador e fecha o Explorer automaticamente, sem dar qualquer tipo de possibilidade ao utilizador de controlar a situação. Por outras palavras, deixei de poder ver ficheiros de filme da minha câmara fotográfica num computador com Windows Vista.

Ou seja, deixamos de ter os vírus e outras coisas a controlarem os computadores, para termos os próprios sistemas, pelos quais pagamos imenso, a fazerem isso... é quase como aquele velho ditado: - Se não os consegues ganhar, junta-te a eles...

Já estou a imaginar os pseudo experts a pensarem: - Lerdo este gajo, actualiza o codec!!

Bom, para esses indivíduos tenho a dizer que, apesar de não ser expert, não sou estúpido, ao contrário de certas pessoas que opinam logo não percebendo o contexto do tema... são experts e especialistas e, por definição, são como cavalos com abas nos olhos que não conseguem ter uma visão abrangente do que os rodeia.

Acontece que não existe actualização de codecs de DivX para sistemas que utilizem processadores a 64 bits. Nem para isso, nem para muita coisa que anteriormente utilizávamos diariamente... o Vista é Kitsch, pura e simplesmente. Perdeu funcionalidade e não serve os intuitos quer do utilizador exigente, quer do indivíduo comum, que não podem nem querem perder tempo com redundâncias de segurança.

Este é um aspecto com que lidamos diariamente nas nossas casas e nos nossos trabalhos. Só que nos nossos trabalhos as coisas ainda tomam proporções mais graves, pois o posto de trabalho está frequentemente ligado em rede a um servidor que controla a segurança da rede...

E é nestes casos que a sensibilidade e a correcta percepção do contexto de trabalho se torna bastante importante para quem gere esses sistemas de segurança.

Todos nós temos casos de situações caricatas de bloqueios de websites e outros tipos de recursos on-line. De certa forma aceito que isso aconteça. No entanto, deve-se ter em atenção a particularidade dos serviços em causa e do contexto desses mesmos serviços.

Os recursos de Internet devem ser tidos como instrumentos de trabalho (e não como perigos existentes a cada 'esquina'), e como tal, as inúmeras tipologias de ferramentas que os recursos on-line nos disponibilizam devem ser utilizadas em função das necessidades dos serviços.

Se num serviço público, como as Finanças por exemplo, não existe uma necessidade efectiva de ferramentas de trabalho baseadas em websites de pornografia, numa empresa de filmes pornográficos já existe. Para não variar estou a exagerar, mas utilizando situações extremas consegue-se ter uma perspectiva mais simples da ideia subjacente a este manifesto.

Mas sendo mais soft: - Se na Segurança Social não parece haver uma necessidade dos seus funcionários visualizarem vídeos FTL on-line, tipo YouTube, numa Instituição que fornece serviços de formação, essa ferramenta (YouTube) já pode ser considerada uma mais valia.

Dois exemplos demonstrativos de como é possível deteriorar e mesmo incapacitar totalmente serviços, com a excessiva segurança:

- Uma instituição que promove formações técnicas utiliza e disponibiliza aos formandos visualizações on-line de técnicas de Know-how disponíveis sob a forma de vídeos públicos no YouTube. Esses vídeos são colocados on-line, por pessoas certificadas e reconhecidas, muitas vezes os próprios formadores, que não possuem interesses financeiros, e divulgam técnicas que podem servir de complemento a uma aprendizagem mais completa.
Ao eliminar-se a possibilidade de visualização desses FTL’s em tempo formativo, devido a protocolos de segurança duvidosos, que muitas vezes camuflam atitudes repressivas na tentativa fácil de melhorar produtividades e a atenção dos funcionários, deteriora-se a qualidade e a eficácia temporal da formação.

- Outra situação prende-se com o bloqueio, através de firewalls em servidores, de ligações on-line entre computadores em diferentes locais, com aplicações como o antigo Netmeeting, o Messenger, ou o Skipe. Muitas Instituições, como a minha, fazem, em alguns departamentos, videoconferências através dessas aplicações por razões económicas e por eficiência de serviços. Quando se bloqueia um qualquer destes serviços que se tornou uma ferramenta efectiva de trabalho, por questões de segurança, está-se a incapacitar uma parte da Instituição.

Gosto imenso de criar analogias para demonstrar mais facilmente ideias. E este caso não foge à regra.

Toda esta questão de segurança desmesurada é facilmente comparável a uma hipotética eliminação, por parte de um técnico (expert) de facas, das facas que cortam melhor de um talhante, pois com essas facas mais afiadas o talhante poder-se-á cortar.
A maneira mais simples (não necessariamente a mais económica) é fechar-lhe à chave num armário as facas mais afiadas, e deixar-lhe trabalhar com as rombas... ele vai acabar por conseguir fazer o seu trabalho, mas irá demorar muito mais tempo e utilizar outros recursos com uma eventual oneração financeira, como seria a de transportar a carne a outro talhante mais ‘expert’ para lhe cortar as peças que não consegue com as facas rombas.

Na verdade, considero que qualquer tipo de bloqueio generalizado de serviços on-line é contraproducente. Se um posto de trabalho utiliza uma ferramenta e outro não, deverá ter-se em conta esse aspecto.

Os recursos financeiros e técnicos não deveriam ser direccionados para uma segurança activa, mas sim para uma segurança passiva, que deveria ser, esta última, derivada de um grau elevado de formação do utilizador do sistema informático, sendo ele quem, em primeiro lugar, filtraria e avaliaria os possíveis riscos ao seu computador de trabalho, que, por sua vez e por norma, não deveria armazenar qualquer tipo de informação critica e/ou vital para o bom desempenho da Instituição.

Face a isto, pergunto-me se a Lei de Moore, aplicada ao hardware informático, se reflecte ao nível de utilização desse hardware?...

Eu trabalho pior, ou tenho uma produtividade inferior, utilizando um computador de 1Gb de memoria, Pentium 4 a 3,00Ghz, com o Windows XP, do que teria se trabalhasse com um novíssimo Core 2Duo T9000 , com 4Gb de Ram, e Windows Vista?

...não me parece...

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