quinta-feira, 27 de agosto de 2009

A relatividade do Tempo....

Um pouco em sequência do tema do anterior post...

... na 3ª feira passada, por acaso, e em forma de ‘canção de embalar’, pus-me a fazer um zapping pela televisão quando de repente apareceu um programa que me prendeu a atenção.

Fala, em cada episódio, sobre a condição sociológica e de desenvolvimento actual de cada um dos países da Europa. Não sei o nome de tal programa, mas é um documentário inglês, dá a altas horas da noite e penso que passa na RTP2, se não me engano... já o tinha apanhado noutra altura e também aí me tinha chamado à atenção...

...como fiquei a matutar acabei agora mesmo de investigar e verifiquei que o dito documentário chama-se “A Nova Europa de Michael Palin” e passa mesmo na RTP2 por volta da 1 da matina às 2ª e 3ª feiras... tinha que ser na RTP2... talvez o melhor canal de televisão português.

Ora bem... ontem o país de ‘estudo’ era a Alemanha. E o que me prendeu à atenção foi a conversa que o Sr. Michael Palin estava a ter com um cidadão alemão de 21 anos...

Melhor, o que me prendeu a atenção foi o que esse rapaz alemão dizia...

Quando questionado sobre a ‘Nova Alemanha’ pós muro de Berlim, este indivíduo afirmava que ouvia os pais dizerem que nessa altura as coisas eram muito más. Ora esse rapaz vive onde outrora existia a RDA, a Alemanha de Leste ou Oriental conforme as diversas designações utilizadas...

Mas, no meio disso tudo, o que me fez realmente clic foi a expressão “[...] ouço os meus pais dizerem que nessa altura [...]”

O muro caiu há 20 anos? Sim, em 1989. Ora isso para mim foi ‘ontem’... tenho 38 anos, e a verdade é que naquele preciso momento em que o miúdo dizia aquilo apercebi-me de uma forma completamente realista da relatividade do tempo.

Se para mim um acontecimento tão ‘recente’ está ‘impresso’ de uma forma completamente legível na minha memória, lembrando-me até de estar a assistir em directo, ou quase, sempre na expectativa de a qualquer momento as tropas avançarem para acabar com aquilo, para aquele ‘miúdo’ alemão esse evento é algo que ocorreu há imenso tempo atrás...

A bom da verdade, lembro-me também de em 1989 pensar que o muro de Berlim era algo de antigo, algo reminiscente da 2ª guerra mundial, algo produzido no inicio da ‘Guerra Fria’, quando na realidade fazia em Agosto desse ano apenas 28 anos de existência... eu tinha 18 anos na altura... e nessa altura era eu o miúdo…

A verdade é que a idade não só nos traz a dita ‘experiência’ de vida, mas, essencialmente, apura-nos a noção do tempo… se com 20 anos de idade, 10 anos são uma eternidade, com 30 anos esses 10 são insignificantes, da mesma forma que com 40 anos de idade, 20 anos acabam por estar ao mesmo nivel…

Talvez por isso é que continuo a insitir que o meu carro com 21 anos ainda me parece muito actual, enquanto para os meus sobrinhos, é uma lata velha... para os meus sobrinhos e não só, para ser honesto...

Bom...

Mas é exactamente por existirem noções muito diferentes de tempo ao longo da vida que se torna compreensivel a insignificância da nossa existência.

Se vivesse mil anos teria uma percepção de tempo muito mais abrangente, e 100 anos seriam como 10 para qualquer outra pessoa…

A relatividade de Einstein existe, é observável não só analiticamente através da existência dos relógios atómicos nos nossos satélites em órbita, como também é observável empiricamente através das diversas noções de tempo que vamos tendo ao longo das nossas curtas vidas…

Face a isto, parece lógico que as novas correntes de pensamento comecem a considerar o tempo, tal como é percepcionado sociologicamente, como uma dimensão inexistente, não sendo passível de ser considerado nas ciências modernas…

...o tempo é na verdade, um conjunto de inúmeros vectores de causa-efeito, não sendo possível o vector efeito-causa, o vector negativo…o regresso ao passado. O tempo é causa-efeito, e não algo que se desloca numa linha estável e mensurável… os segundos, minutos e horas, existem para criar uma normalização pela qual nos possamos orientar…é uma invenção Humana que ‘faz parte’ da geometria Euclidiana, e não da geometria quântica ou do Caos…

Concluindo...para não me enterrar mais em considerações de onde depois não sei sair...

Definitivamente, chegado a esta altura, sei que me devo guiar essencialmente por impulsos e muito menos pela razão, como antes o fazia… a racionalização e a problematização dos diversos paths que nos vão surgindo ao longo da vida, é pura ‘perca de tempo’. Enquanto tentamos perceber racionalmente qual o melhor percurso a seguir, passam-se dias, semanas, meses e muitas vezes anos, não recuperáveis.

Parece-me bem mais racional seguir os impulsos e os desejos que nos surgem ao longo da vida, desde que, após uma muito rápida avaliação ‘racional’, a curto médio prazo não sejam passíveis de nos colocar em situação desfavorável. E ainda que isso aconteça, no momento seguinte, poderemos sempre imaginar, pensar e agir em função do impulso seguinte que tende para a resolução do problema, equilibrando a situação.

Fazendo parte de um sistema ambiental que integra inúmeras variáveis de causa-efeito sobre as quais não temos qualquer tipo de influência, a capacidade de controlo sobre a nossa própria vida resume-se a escalas muito pequenas.

Compreendendo isto, a tentativa de perceber e tentar planear a médio longo prazo as nossas acções, não merece mais do que uns dias de cogitação, inseridos que estamos num mundo cada vez mais mutável sobre todos os níveis, Humanos ou não, …

Esta tem sido a minha filosofia de vida de há um par de anos para cá, totalmente oposta à que seguia anteriormente, e posso afirmar que me sinto mais perto de atingir um ideal de vida, equilibrada e sem conflitos internos.

Chegado a esta idade, considerada por muitos perto da ‘meia-idade’, aquela que fica na linha temporal aproximadamente a meio entre o nascimento e a morte de um individuo, torna-se evidente que, perante a relativização do tempo que fazemos, os 38 anos estão, na verdade, muito, mas muito mais perto do final do que do inicio da vida de qualquer um de nós.

Apesar dessa compreensão, que pode ser por muitos considerada um pouco deprimente, deparo-me exactamente com um sentimento oposto... que esta idade está também muito mais perto do periodo de vida em que qualquer um de nós poderá atingir um certo ‘Nirvana pessoal’, e isso é verdadeiramente fantástico.


1 comentário:

johnnie walker disse...

O teu carro sucka! Eh belho!

Ahahah
Gostei desta análise. Acredito que se as pessoas pensarem que realmente só vivemos uma vez, então talvez parassem de se preocupar com futilidades e mesquinhices e vivessem a vida...