terça-feira, 10 de março de 2009

Realidade e Fantasia... limites perigosos I

Nem sei bem, como começar, e se começar este tópico...até porque receio ser quase impossível falar sobre este assunto sem me alongar em demasia. Talvez por isso é que irei dividi-lo em duas partes. Uma primeira parte mais aborrecida e a segunda com o exemplo real do que quero transmitir com isto.

Para dizer a verdade já há algum tempo que ando a pensar em escrever sobre estas questões, mas de certa forma, ao fazê-lo, irei contra a ética associada ao assunto em causa, e logo, tenderei a entrar em paradoxo.

Bom, seja como for, decidi avançar com este comentário deixando desde já o aviso para o que irão vivenciar aqui através de alguns vídeos que penso postar na parte II. É macabro, mas é o mundo em que vivemos.

Como todos sabemos vivemos numa era de comunicação global, onde qualquer um de nós pode expôr publicamente ideias sobre o que nos vêm à cabeça. È o que agora estou a fazer.

É excelente que assim o seja. Deixámos de ser ‘pequeninos’ e passámos a fazer parte, não apenas do nosso bairro, mas agora também de uma verdadeira experiencia global, podendo conhecer em tempo real pessoas de qualquer lugar e inter-agir com elas e com a sua cultura.

Não deixo, no entanto, de manter um certo cepticismo quanto a esta evolução tecnológica que, se por um lado nos remete para um conhecimento abrangente de tudo e de todos, por outro lado, para os mais incautos, que existem cada vez em maior número, se torna causadora de ilusões muito para além da realidade.

Não sei até que ponto estaremos preparados (como entes biológicos) para perceber que nem tudo é fácil, e que nem tudo é possível, como a tecnologia nos leva a crer.

A tecnologia informática, cuja revolução começa verdadeiramente nos anos 80/90 do século XX e que ainda esta na sua infância, é extremamente redutora e, ao mesmo tempo, exigente, pois se muitas vezes proporciona um ‘porto seguro’ para quem tem dificuldades em inter-agir com a realidade do mundo físico e social, também exige por outro lado que estejamos aptos a interpreta-la convenientemente, caso contrário limitará os nossos actos e consequentemente a nossa vida e a dos outros.

Conhecem certamente o caso da
Second Life. Aquele mundo virtual onde, ao criarmos um avatar, podemos viver nesse espaço sem sair da cadeira da secretária, existindo, inclusivamente através desse mundo virtual, a possibilidade de termos rendimentos reais para sobrevivermos no mundo real. Podem achar estranho, mas existem já empresas que têm como único mercado esse universo exclusivamente virtual. Eu próprio já explorei esse mundo e digo-vos com toda a sinceridade que é fascinante. No entanto, para conseguirmos ser ‘alguém’ teremos que viver apenas e só para aquele tipo de vida….

Se aí a tecnologia nos proporciona a capacidade de sermos quase tudo o que quisermos de uma forma camuflada sem nos preocuparmos com o que somos realmente, na First Life (inventei isso agora!) ou na vida real, existe o lado de escravidão e limitativo do individuo, através da tecnologia. E esse aparece frequentemente no nosso dia a dia ‘real’.

É o caso, por exemplo, de quem compra um carro novo actualmente. Os automóveis modernos têm uma parafernália de sensores que nos avisam de quase tudo, mas esses sensores limitam a condução de tal forma que, muitas vezes, se torna quase impossível deslocarmo-nos a algum lado sem termos um luz avisadora a perturbar a nossa atenção do que de importante deveremos fazer: - conduzir.

São também esses sensores e seguranças activas que camuflam os limites físicos do veiculo, levando-nos a ultrapassar excessos que noutros automóveis mais antigos seriamos incapazes de ultrapassar, ou seja, criam-nos a ilusão da segurança através da eliminação dos sentidos humanos.

Quase que afirmaria que é mais perigoso andar em certos carros com tanta informação, do que conduzir a atender o telemóvel.

Li há uns tempos que a Mercedes reduziu em algumas gamas, até 50% a quantidade de extras, sensores e avisos existentes nos seus carros, pois, para além de ninguém os utilizar na sua condução diária, foi comprovado que perturbavam a condução e tornavam as mais simples avarias em transtornos e custos enormes para o proprietário que se via privado daquilo para que foi concebido o automóvel: - circular.

Estes senhores da indústria automóvel deviam ter tido (e continuar a ter) em atenção a história recente. Se a estação espacial MIR,
, da antiga URSS, durou décadas no espaço muito para além do seu tempo de vida útil, foi devido em grande parte à filosofia tecnologica do bloco soviético – pura e dura!
Do outro lado competia a SkyLab, dos EUA, que, por ter tantos sistemas complexos e redundantes, tinha constantes avarias e acabou por cair muito antes do seu tempo de vida útil.
E lembram-se da historia do Trabant? Sei que este não é o melhor dos exemplos, mas reflecte a ideologia de eficiencia associada à criação de um produto, mesmo que não se pense no futuro ...

Mas temos ainda o exemplo do T-34 da 2ª guerra mundial.

No fundo, trata-se em grande parte de nunca nos esquecermos das questões ergonómicas a que a tecnologia devia estar limitada.

Não cabe na cabeça de ninguém criar um telemóvel Kitsch com teclas com 2 milimetros, se depois não temos dedos para carregar nelas... por essa ordem de ideias, os sensores em demasia também não são necessários e são até perturbantes na condução, pois ocupam o nosso raciocínio com coisas sem importância.

Ora compreendendo isso, também deveria ser compreendido que jogos e mundos cujas inter-acções com o seu utilizador se tornam cada vez mais ‘reais’ pelas experiências sensoriais que nos proporcionam, deveriam ser objecto de algum tipo de limitação, pois são garantidamente causadores de desvios da realidade social que se pretende conservar e que é aquela que parece a que nos proporciona a existência enquanto espécie.

Ainda não somos ‘prisioneiros’ de uma Matrix qualquer, mas se não nos precavermos, no futuro talvez o venhamos a ser...por iniciativa própria.

Passemos então a demonstrar o quão pernicioso já é este dualismo Homem / Tecnologia.

Seguir para o post II

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